CORREIO POPULAR / CARLOS CRUZ
27 de out. de 2022
Campinas, quinta-feira, 20 de outubro de 2022
Quando Vice-Prefeito de Campinas, fui convidado a participar em Monte Carlo da “Conferência de Mônaco – Oportunidades de Investimentos no Brasil”, organizada pelo Fórum das Américas, entidade fundada e presidida pelo empresário campineiro Mário Garnero, também Presidente do Grupo Brasilinvest.
Em companhia do Presidente do Grupo RAC, Dr. Sylvino de Godoy Neto e outros convidados de Campinas, por dois dias assistimos a um desfile interminável das mais altas autoridades brasileiras e internacionais. Líderes políticos, empresários, juristas, economistas, diplomatas e jornalistas do mundo todo analisando e discutindo as oportunidades e possibilidades de negócios oferecidos pelo Brasil e Mercosul ante a economia global.
O evento de dois dias intensos de atividades foi encerrado com um “jantar de gala”, no aristocrático Hotel de Paris, lotado, comandado pelo seu realizador, Dr. Mário Garnero, com as ilustres presenças do Príncipe Rainier de Mônaco, seu filho Príncipe Albert, Ex-Presidente, George Bush, a esposa Sra. Bárbara Bush, Chanceler Helmut Schmidt da Alemanha, Sergio Cragnotti empresário italiano, as mais altas autoridades brasileiras do executivo, legislativo e judiciário e tantas outras personalidades globais, numa demonstração de competência, respeito e prestígio internacional de seu idealizador, Dr. Mário Garnero, ocasião em que discursou aos presentes, mesclando e ilustrando suas palavras em cinco idiomas.
Foi um acontecimento marcante para a divulgação do Brasil no caminho de sua inserção e consolidação no mercado globalizado, mas no campo pessoal foi o ponto culminante de resgate integral da dignidade e honra, daquele que houvera sido vítima de conjecturas e
tramas políticas injustificadas, como ficou comprovado três dias após, a posse de Sarney como Presidente interino e depois efetivado em ação de liquidação do Banco Brasilinvest, urdida pelo primeiro escalão da Nova República e liderada pelo então novo Ministro da Economia, Francisco Dorneles, cuja maior credencial era o de ser sobrinho de Tancredo Neves.
Faço essa introdução para encapar o tema principal deste artigo, que repete alguns outros já publicados, em que concentro meus comentários para enaltecer as qualidades de personalidades que admiro pelas realizações, conquistas, exemplos e lições de vida que oferecem.
Classifico o Dr. Mário Garnero como um clássico “self made man”, alguém que se fez por si próprio com seu esforço e por suas boas qualidades.
Nascido em Campinas, em lar próspero e harmônico, soube desde os tempos de estudante já em São Paulo, no tradicional Colégio São Luiz, fazer prevalecer e cultivar seu espírito de liderança, consolidada na Presidência do Centro Acadêmico 22 de Agosto da Faculdade Paulista de Direito da PUC de São Paulo.
Nessa posição com segurança próxima do atrevimento, desenvolveu e aprimorou sua vocação de realizador e empreendedor de diálogos e entendimentos, discussões e debates, reuniões e oportunidades, para exposição dos mais heterogêneos matizes ideológicos, trazendo para “palestras” no Centro Acadêmico, figuras destacadas da vida pública e política nacional e internacional, líderes como Carlos Lacerda, Leonel Brizola, o líder camponês Francisco Julião e até o então candidato a Presidente dos Estados Unidos, Robert Kennedy.
Juscelino Kubitschek, que havia transmitido o Governo ao novo Presidente, Jânio Quadros, e, por ele era atacado ferozmente, aceitou o convite do acadêmico Mário Garnero de falar aos estudantes, com repercussão na mídia nacional. Antecedendo sua “palestra”, o Centro Acadêmico realizou uma missa na Catedral da Sé, e uma concentração monstro de populares se formou espontaneamente para saudar o ex-presidente querido do povo. Nessa ocasião, vendo a alegria popular, Juscelino observou ao jovem Mário, o que considerou uma grande lição que o auxiliou e muito em episódio futuro: “não há poder que resista à força moral”.
A partir de então, Juscelino incorporou Mário Garnero na organização de sua campanha para voltar a se eleger Presidente na eleição de 65, que não houve, transformando-o em coordenador da campanha em São Paulo e homem de sua mais absoluta confiança, mantida até sua trágica morte em acidente automobilístico que comoveu toda a nação.
Essa convivência marcou sua passagem para a vida adulta e profissional, alicerçada em sólida formação acadêmica e intelectual. Foi Diretor da Volkswagen e Presidente da ANFAVEA, poderosa Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores e da CNI, Confederação Nacional da Indústria, período em que, atuando pelo segmento privado industrial, teve ativa participação na vida nacional, principalmente no período de fortalecimento do movimento sindicalista, exercendo papel fundamental no diálogo e nas negociações com os metalúrgicos liderados por Lula, emergente líder sindicalista.
Numa iniciativa da ANFAVEA, realizou em Salzburgo, na Áustria, o “SALZBURGO-75”, Seminário Internacional sobre Investimentos no Brasil, evento que reuniu duas mil e duzentas pessoas destacadas do universo político empresarial de todo o mundo, cujo resultado contribuiu em dois anos com o crescimento dos investimentos estrangeiros no Brasil, em um bilhão e meio de dólares.
Na segunda metade dos anos 70, já no comando de seu grupo próprio, o BRASILINVEST, passou a atuar no universo dos negócios, desde venda de máquinas para a China, minerando cobre no Chile, montando polo petroquímico no Rio Grande do Sul, tirando leite de soja em Campinas e seu orgulho, a construção das duas torres de dezoito andares fincadas na Avenida Faria Lima, esquina da Rebouças, chamadas de “as torres do Brasilinvest”, cuja história da edificação compõe um processo que exigiu extensa arquitetura empresarial e financeira de folego, obstinação, otimismo e entusiasmo.
Fonte: Jornal Correio Popular de Campinas